
Recicleitor: a revolução da reciclagem
maio 9, 2025Iniciativas em Bali dão novo destino ao plástico descartado

Lago do templo Pura Ulun Danau, em Bali (Anders Blomqvist/LPI) / BBC
Quando se trata de viagens paradisíacas, a ilha de Bali, na Indonésia, ocupa lugar de destaque. Também conhecida como “ilha dos deuses”, o lugar de praias cristalinas vem sofrendo com a enorme quantidade de lixo não coletado. Cerca de 1,6 milhão de toneladas por ano, sendo 350 mil toneladas apenas de plástico, vão parar nos rios, praias e mar.
Para combater o problema, habitantes de Bali buscam soluções conscientes. Os irmãos Gary, Sam e Kelly Bencheghib criaram a ONG “Make a Change World”e a “Sungai Watch” (Sungai significa “rio” em indonésio), que organiza multidões de limpeza nos rios da ilha e instala barreiras flutuantes para evitar que resíduos cheguem ao oceano.
Para aproveitar ao máximo os plásticos coletados, em especial as sacolas de compras, que representam quase um terço do que é coletado, o Sungai Watch está prestes a lançar uma linha de móveis e obras de arte duráveis feitos a partir desses plásticos, com a ajuda do diretor criativo Michael Russek.
O projeto consiste na produção de chapas de plástico com efeito mármore ou terrazzo, produzidas por máquinas de compressão térmica parecida com uma sanduicheira, técnica popularizada por outro coletivo de reciclagem, o Precious Plastic. “Conseguir transformar sacolas plásticas em objetos de decoração mostra o valor oculto do lixo”, diz Kelly.

Plástico reciclado ganha espaço em resort de luxo
O empreendedor indonésio Ronald Akili, fundador da marca de hospitalidade e lifestyle Potato Head, desenvolveu a vila Desa Potato Head, uma vila criativa construída ao redor do Beach Club e Hotel Potato Head.
O complexo à beira-mar foi projetado pelo escritório holandês OMA e tem como essência o reaproveitamento de plásticos. Tecelões da firma de design BYO Living, de Jacarta, reaproveitaram 1,7 tonelada de plástico PET comprimido para criar os tetos geométricos da Desa e colaboraram com a designer britânica Faye Toogood em uma coleção exclusiva de móveis de rattan envoltos em garrafas PET recicladas.
Para compor os quartos da Desa Potato Head, o designer Max Lamb trabalhou com artesãos do estúdio local Kalpa Taru para criar cadeiras de escritório caleidoscópicas e feitas de chapas plásticas semelhantes ao terrazzo.Já o designer espanhol Andreu Carulla colabora com o laboratório de P\&D da Desa para produzir banquetas arredondadas de isopor reciclado.
Segundo Ronald Akili, “tendemos a reagir melhor quando somos inspirados, e não quando nos pregam lições. Todos queremos comer melhor, mas a comida ainda precisa ser saborosa. Todos queremos fazer objetos sustentáveis, mas eles ainda precisam ser bonitos.”
Desde sua inauguração em 2019, a Desa tornou-se plataforma e ponto de encontro para os envolvidos com o plástico em Bali. “Queríamos convidar artistas, comunidades locais e engenheiros para compartilharem suas vozes”, diz Akili.

Outras iniciativas voltadas à sustentabilidade
Nos últimos anos, mais projetos voltados ao plástico surgiram pela ilha. Em Canggu, o epicentro de expatriados de Bali, o cofundador da LN-CC e ex-diretor criativo da Potato Head, Daniel Mitchell, lançou o Museum of Space Available — uma galeria, loja e espaço de design circular.
Atrás de uma fachada feita com mais de 200 mil garrafas plásticas comprimidas, Daniel vende decoração feita com “mármore” plástico reciclado e cadeiras de meditação trançadas com fitas plásticas descartadas pelo mestre artesão balinês Nano Uhero. “O artesanato está no coração da cultura balinesa”, diz Mitchell. “As canang sari, oferendas diárias feitas com folhas de bananeira, e técnicas artesanais como a tecelagem e o entalhe em madeira são parte fundamental da vida aqui. As pessoas são incrivelmente habilidosas”, afirma o cofundador.
Os designs de Mitchel levam a reciclagem além das praias de Bali: a plataforma global de e-commerce Mr Porter vende os porta-incensos de plástico reciclado da Space Available por 60 libras cada. Mitchell também promoveu pop-ups na Selfridges e no Dover Street Market, em Tóquio. Uma cadeira feita com cerca de 6.320 tampinhas recicladas, criada em parceria com a DJ sul-coreana Peggy Gou, agora faz parte da coleção permanente do Stedelijk Museum, em Amsterdã.

Iniciativas como essas têm ajudado a trazer a reciclagem de plástico para o mainstream — e os negócios em Bali voltados à sustentabilidade estão colhendo os frutos. A Wedoo, principal fabricante de máquinas de processamento de resíduos plásticos da ilha, viu seus pedidos saltarem de 30 máquinas em 2021 para 50 no último ano. Enquanto isso, os preços por quilo dos tipos mais valorizados de plástico limpo e separado aumentaram até 70% nos últimos três anos. Oficinas de produção B2B como a ëCollabo8, fundada em 2019 pelo ecoempreendedor Kevin Vignier-Groiez, ajudam a atender a demanda crescente por mobiliário e materiais de construção feitos com plástico reciclado — móveis com aparência de madeira feitos a partir de “toras plásticas”, pratos e copos com efeito de mármore — que hoje enfeitam hotéis como o *Meliá Bali e a coleção de casas na árvore Grün.
Todos esses exemplos mostram como o aproveitamento do plástico leva à valorização, incentivando a destinação correta dos resíduos e transformando o que seria jogado fora em peças úteis e obras de arte. A economia circular é a melhor solução para lidar com o grande volume de resíduos resultante das práticas atuais de consumo.